Superpopulação de capivaras é hospedeira de carrapatos que oferecem riscos ao campus

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O Lago Açú, mais conhecido como o lago do Instituto de Agronomia (IA), na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), chama a atenção de alunos e visitantes por sua beleza, mas também pela presença do maior roedor do Brasil, a capivara. Apesar de ser símbolo do lago, a superpopulação desse animal se tornou uma questão de saúde pública por ser reservatório da bactéria causadora da febre maculosa em seres humanos.

O carrapato-estrela infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii é o vetor da doença. Esse carrapato pode ser encontrado em animais de grande porte, cães, aves domésticas, roedores e, principalmente, na capivara, o maior de todos os reservatórios naturais. O hospedeiro é picado pelo carrapato e a bactéria é introduzida na corrente sanguínea do animal. Nos seres humanos, a picada pode causar a febre maculosa, que é uma doença cujos sintomas são parecidos com os da dengue, o que dificulta o diagnóstico. 


 
Os responsáveis pelo Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública (DESP), professores de Medicina Veterinária da Universidade, alertaram à reitoria sobre os riscos da proliferação do carrapato contaminado através de um memorando (Memorando nº 71/2014, de 19 de maio de 2014) e solicitaram medidas profiláticas, como panfletos informativos e placas de advertência, mas não obtiveram resposta. Como departamento de saúde pública, nos sentimos responsáveis caso ocorra algum caso. Cabe à Universidade notificar. Se produzissem um folder explicativo ou colocassem placas ao redor do lago, a população entenderia o perigo, conta Paulo César de Souza, coordenador do DESP.
 
Placa de advertência da USP no campus de Riberão Preto (Foto: Divulgação)
Em outras universidades federais do país que contam com a presença de capivaras no campus, foram diagnosticados casos de febre maculosa. Na Universidade Federal de Goiás (UFG), o professor de agronomia Rommel Bernardes da Costa contraiu a doença e o diagnóstico só foi preciso porque ele alertou os médicos de que esteve próximo a uma área com a presença de capivaras. Após o caso, a Universidade isolou a área e investiu em formas de conscientização como palestras. Em Piracicaba (SP), no campus da Universidade de São Paulo (USP), uma aluna de pós-graduação foi infectada. Além disso, quatro pessoas morreram ano passado na cidade vítimas da doença.

Segundo o professor Carlos Alexandre Matias, as capivaras foram introduzidas na Rural pelo Instituto de Zootecnia (IZ) para criação voltada ao consumo de sua carne. O projeto foi abandonado e as capivaras se abrigaram no lago. Essa negligência resultou na superpopulação dos roedores, agravada pela falta de um predador natural, como jacaré e onça, o que não é viável no ambiente universitário.

Da esquerda para direita: Carlos Alexandre Matias, Paulo César de Souza, Isabele Angelo e Huarrison Santos, responsáveis pelo DESP 

O DESP discute formas de tentar resolver o problema. Uma das opções e a mais recomendada pelas normas de saúde pública é a eutanásia das capivaras. Um projeto alternativo levaria muito tempo, gastaria muito dinheiro, exporia muita gente e não resolveria o problema, afirma Paulo, defensor da medida. Existem alternativas, como a castração dos machos, um meio de amenizar o problema a longo prazo e também solucionar a questão da superpopulação. Transferir os animais para outra área é também um método, mas apresenta riscos. Não se pode transferir a capivara para um habitat em que o impacto da doença nos animais é desconhecido. Não podemos mudar o problema de lugar e introduzir a doença em um ambiente em que ela não está preparada para ser recebida, alerta o professor Huarrisson Santos.


Matéria de: Ananda Cantarino, Giulia Escuri, Matheus Queiroz e Vitória Quirino

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